EXCLUSIVO PARA O SÃO PAULO URGENTE!!!
Entrevista com a administradora do Parque Buenos Aires, Rita de Cássia Ferreira Nakamura
“O mais difícil de administrar no Parque Buenos Aires são as pessoas porque administrar o verde é um privilégio de Deus”, afirmou Rita de Cássia Nakamura, atual administradora do Parque Buenos Aires, em entrevista exclusiva aos blogueiros do São Paulo Urgente.
Inaugurado em 18 de setembro de 1913, o Parque Buenos Aires tem exatos 25.662 m², e fica em Higienópolis, um bairro nobre da capital, entre as ruas Piauí, Alagoas, Bahia e av. Angélica. É uma das poucas áreas verdes - e bem preservadas - na região central de São Paulo.
Um verdadeiro oásis, cheio de verde, um pouco de tranqüilidade e quietude no meio da fumaça e do concreto paulistano. Recanto de algumas mães, dezenas de babás com suas roupas brancas, crianças judaicas, árabes, chinesas paulistanas e baianas brincando lado a lado. Cerca de mil pessoas circulam diariamente pelo Parque Buenos Aires, número que dobra nos finais de semana. Mensalmente, cerca de 15 mil cachorros (!!!) passeiam por lá.
Aliás, a "simples" circulação de cachorros, hoje restrita a uma área reservada, já gerou polêmica, diversas reportagens na mídia paulistana, bate boca entre freqüentadores e muita paciência dos administradores.
“Além de ter experiência com o verde, eu tenho uma formação mais para o lado humano, das pessoas, do social. Nós conversamos, explicamos as regras”, nos contou a administradora
Questionamos se alto poder aquisitivo dos visitantes necessariamente se reflete na boa conservação da área. Mas a desobediência ao regulamento do Parque, apesar de pontual, não tem classe social, segundo Rita de Cássia:
“Não vou dizer que é geral, mas no começo eu tive um enfrentamento muito grande com a arrogância de muitas pessoas, que era uma coisa assim ‘Você sabe quem eu sou? Eu não vou cumprir o regulamento do uso do parque porque o prefeito Gilberto Kassab me deve R$ 10 milhões, é eu fazer assim (estalar um dedo) e pronto", comentou a administradora. Rita de Cássia já foi até alvo de processo de uma freqüentadora enfurecida, mas venceu.
Entre outras dificuldades, Rita contou que já teve "que ser muito firme, muito dura. Jamais sem educação, mas a ponto de colocar até usuário para fora. Pode ficar no parque desde que cumpra regulamento de uso. (...) Na cidade a gente peca por falta de fiscalização".
Administrar uma área verde numa cidade como a nossa é mesmo tarefa para uma mulher de uma coragem. Leiam e comemtem primeira parte da entrevista (a próxima será publica na 2ª feira, 16.02)
São Paulo Urgente – Como é administrar o Parque Buenos Aires?
Rita de Cássia Ferreira Nakamura - O mais difícil de administrar no Parque Buenos Aires são as pessoas porque administrar o verde é um privilégio de Deus. Trabalhar com a natureza é uma maravilha, com as árvores, com as plantas ornamentais. Até mesmo cuidar, sanar as pragas, os fungos, que seria o lado chato, mas existe, faz parte da natureza. Eu acho que o desafio maior é você trabalhar essa consciência nas pessoas.
SPU – Consciência dos freqüentadores ou das pessoas que trabalham com você?
Rita de Cássia – Os dois lados. Treinar uma equipe, ensinar que trabalhar com o verde não é um trabalho mecânico. Pode ser todos os dias a mesma coisa - limpar o parque, tirar mato, plantar, fazer replantio, mas não é. Você está mexendo com vida. No Parque Buenos Aires estamos conseguindo “arredondar” cada vez mais nossa equipe. O outro desafio são as pessoas que usufruem do parque, os freqüentadores, a vizinhança e tal. É uma área pública, e nos partimos do princípio que as pessoas também tenham está clareza - eu pago os impostos, é um pedaço meu, uma parte de área verde que está no meu bairro. Então eu também vou fazer minha parte, vou exercer a cidadania.
SPU – Você acredita que os moradores do entorno, que tem maior poder aquisitivo, cuidam melhor do parque? Você também convive com morador de rua que freqüenta o parque. Como é essa relação?
Rita de Cássia – No Parque Buenos Aires também temos moradores de rua. Eles também vão se enquadrar no esquema de trabalho, nas regras do parque. Nós não deixamos ninguém deitar nos bancos. Isto não é só para os moradores de rua, é geral. Ninguém deita nos bancos porque os bancos são para sentar. Temos algumas gramadas pontuais onde você pode deitar.
O próprio morador de rua já incorporou isto. Ele não deita nos bancos. Isso é perfil de cada administrador. Além de ter experiência com o verde, eu tenho uma formação mais para o lado humano, das pessoas, do social.
Nós conversamos, explicamos as regras. Não é discriminação. Pode usar o banheiro, pode estar aqui. O banheiro para o público em geral é grudado aqui na administração. É impossível nos não acompanharmos.
Tudo isso, posso dizer com bastante tranqüilidade, é fruto de um trabalho de relações públicas, mas de cunho social. Até os moradores de rua que estão no gradil, fora do Parque Buenos Aires acabam nossos colaboradores. Não deixam coisas espalhadas porque damos saco para eles jogarem todas as coisas.
Eu já consegui emprego na frente de trabalho da Subprefeitura para dois moradores de rua. Eu vou até eles, vou conversar com eles, não vou massacrar. É sempre assim, digo “pessoal, preciso da colaboração de vocês”.
E mesmo assim sempre tem aquelas figuras, não é? Tem um que quando bebe se transforma num bicho. Um vigilante já o pegou com uma faca dizendo “vou catar aquela administradora!”, porque bebeu e ficou agressivo.
SPU – Qual foi sua maior dificuldade na administração do Parque Buenos Aires?
Rita de Cássia - Quando eu vim para este parque eu conhecia o entorno. Não era assim muito fácil, mas, voltando à sua pergunta - se o pessoal de classe media alta, que tem mais conhecimento, mais informação e cultura cuida melhor do parque? Tem tudo isso, sim, porém também tem muita gente...
Não vou dizer que é geral, mas no começo eu tive um enfrentamento muito grande com a arrogância de muitas pessoas, que era uma coisa assim “Você sabe quem eu sou? Eu não vou cumprir o regulamento do uso do parque porque o prefeito Gilberto Kassab me deve R$ 10 milhões, é eu fazer assim (estalar um dedo) e pronto”.
Tive que ser muito firme, muito dura. Jamais sem educação, mas a ponto de colocar até usuário para fora. Pode ficar no parque desde que cumpra regulamento de uso. O regulamento é a lei do parque, é oficial, está lá em decreto, no Diário Oficial. Na cidade a gente peca por falta de fiscalização, mas aqui dentro, enquanto eu for administradora deste parque as regras são levadas a sério, e muito.
Com vários eu tive que colocar para fora, o que é muito chato. “Eu convido a senhora..., convido ao senhor a se retirar do parque”. E ai me responde: “Ah, não vou”. Explico que vou lhe dar um outro argumento, dar uma escolha que sair com a nossa vigilância ou tem que chamar a Guarda Civil Municipal. Uma pessoa saiu do parque aos berros, xingando “Vocês são um bando de vagabundos!”. Assim, mas saiu com a nossa vigilância.
Eu vim com o intuito de pôr esse parque em ordem. Nós recebemos 500 cachorros por dia em média. Há dois, três anos, o parque era só dos cachorros. Não tinha divisão de uso de área. A fonte que você vê restaurada (na entrada do parque), com água hoje, nós temos arquivo de fotos. Tinha cachorro ali dentro pulando! Aquele gramadão atrás da fonte, que hoje está lindo, era um terrão puro. Era só cachorro, ninguém respeitava regulamento de uso.
Nos canteiros não podem ir cachorros. Pra isso foi feito um cercadinho onde as pessoas podem soltar os cachorros. Havia essa história que o pessoal era um pouco difícil aqui, mas eu não achava que fosse tanto.
Parque Buenos Aires - Avenida Angélica, s/nº (altura do 1.500) - Higienópolis
Fone (11) 3666-8032
Horário de funcionamento das 7h00 às 19h00
Para saber mais:
História do Parque Buenos Aires
Fotos do SOS São Paulo no Flick
Site da Secretaria Muncipal do Verde e Meio Ambiente
Texto/Fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto
Entrevista com a administradora do Parque Buenos Aires, Rita de Cássia Ferreira Nakamura
“O mais difícil de administrar no Parque Buenos Aires são as pessoas porque administrar o verde é um privilégio de Deus”, afirmou Rita de Cássia Nakamura, atual administradora do Parque Buenos Aires, em entrevista exclusiva aos blogueiros do São Paulo Urgente.
Inaugurado em 18 de setembro de 1913, o Parque Buenos Aires tem exatos 25.662 m², e fica em Higienópolis, um bairro nobre da capital, entre as ruas Piauí, Alagoas, Bahia e av. Angélica. É uma das poucas áreas verdes - e bem preservadas - na região central de São Paulo.
Um verdadeiro oásis, cheio de verde, um pouco de tranqüilidade e quietude no meio da fumaça e do concreto paulistano. Recanto de algumas mães, dezenas de babás com suas roupas brancas, crianças judaicas, árabes, chinesas paulistanas e baianas brincando lado a lado. Cerca de mil pessoas circulam diariamente pelo Parque Buenos Aires, número que dobra nos finais de semana. Mensalmente, cerca de 15 mil cachorros (!!!) passeiam por lá.
Aliás, a "simples" circulação de cachorros, hoje restrita a uma área reservada, já gerou polêmica, diversas reportagens na mídia paulistana, bate boca entre freqüentadores e muita paciência dos administradores.
“Além de ter experiência com o verde, eu tenho uma formação mais para o lado humano, das pessoas, do social. Nós conversamos, explicamos as regras”, nos contou a administradora
Questionamos se alto poder aquisitivo dos visitantes necessariamente se reflete na boa conservação da área. Mas a desobediência ao regulamento do Parque, apesar de pontual, não tem classe social, segundo Rita de Cássia:
“Não vou dizer que é geral, mas no começo eu tive um enfrentamento muito grande com a arrogância de muitas pessoas, que era uma coisa assim ‘Você sabe quem eu sou? Eu não vou cumprir o regulamento do uso do parque porque o prefeito Gilberto Kassab me deve R$ 10 milhões, é eu fazer assim (estalar um dedo) e pronto", comentou a administradora. Rita de Cássia já foi até alvo de processo de uma freqüentadora enfurecida, mas venceu.
Entre outras dificuldades, Rita contou que já teve "que ser muito firme, muito dura. Jamais sem educação, mas a ponto de colocar até usuário para fora. Pode ficar no parque desde que cumpra regulamento de uso. (...) Na cidade a gente peca por falta de fiscalização".
Administrar uma área verde numa cidade como a nossa é mesmo tarefa para uma mulher de uma coragem. Leiam e comemtem primeira parte da entrevista (a próxima será publica na 2ª feira, 16.02)
São Paulo Urgente – Como é administrar o Parque Buenos Aires?
Rita de Cássia Ferreira Nakamura - O mais difícil de administrar no Parque Buenos Aires são as pessoas porque administrar o verde é um privilégio de Deus. Trabalhar com a natureza é uma maravilha, com as árvores, com as plantas ornamentais. Até mesmo cuidar, sanar as pragas, os fungos, que seria o lado chato, mas existe, faz parte da natureza. Eu acho que o desafio maior é você trabalhar essa consciência nas pessoas.
SPU – Consciência dos freqüentadores ou das pessoas que trabalham com você?
Rita de Cássia – Os dois lados. Treinar uma equipe, ensinar que trabalhar com o verde não é um trabalho mecânico. Pode ser todos os dias a mesma coisa - limpar o parque, tirar mato, plantar, fazer replantio, mas não é. Você está mexendo com vida. No Parque Buenos Aires estamos conseguindo “arredondar” cada vez mais nossa equipe. O outro desafio são as pessoas que usufruem do parque, os freqüentadores, a vizinhança e tal. É uma área pública, e nos partimos do princípio que as pessoas também tenham está clareza - eu pago os impostos, é um pedaço meu, uma parte de área verde que está no meu bairro. Então eu também vou fazer minha parte, vou exercer a cidadania.
SPU – Você acredita que os moradores do entorno, que tem maior poder aquisitivo, cuidam melhor do parque? Você também convive com morador de rua que freqüenta o parque. Como é essa relação?
Rita de Cássia – No Parque Buenos Aires também temos moradores de rua. Eles também vão se enquadrar no esquema de trabalho, nas regras do parque. Nós não deixamos ninguém deitar nos bancos. Isto não é só para os moradores de rua, é geral. Ninguém deita nos bancos porque os bancos são para sentar. Temos algumas gramadas pontuais onde você pode deitar.
O próprio morador de rua já incorporou isto. Ele não deita nos bancos. Isso é perfil de cada administrador. Além de ter experiência com o verde, eu tenho uma formação mais para o lado humano, das pessoas, do social.
Nós conversamos, explicamos as regras. Não é discriminação. Pode usar o banheiro, pode estar aqui. O banheiro para o público em geral é grudado aqui na administração. É impossível nos não acompanharmos.
Tudo isso, posso dizer com bastante tranqüilidade, é fruto de um trabalho de relações públicas, mas de cunho social. Até os moradores de rua que estão no gradil, fora do Parque Buenos Aires acabam nossos colaboradores. Não deixam coisas espalhadas porque damos saco para eles jogarem todas as coisas.
Eu já consegui emprego na frente de trabalho da Subprefeitura para dois moradores de rua. Eu vou até eles, vou conversar com eles, não vou massacrar. É sempre assim, digo “pessoal, preciso da colaboração de vocês”.
E mesmo assim sempre tem aquelas figuras, não é? Tem um que quando bebe se transforma num bicho. Um vigilante já o pegou com uma faca dizendo “vou catar aquela administradora!”, porque bebeu e ficou agressivo.
SPU – Qual foi sua maior dificuldade na administração do Parque Buenos Aires?
Rita de Cássia - Quando eu vim para este parque eu conhecia o entorno. Não era assim muito fácil, mas, voltando à sua pergunta - se o pessoal de classe media alta, que tem mais conhecimento, mais informação e cultura cuida melhor do parque? Tem tudo isso, sim, porém também tem muita gente...
Não vou dizer que é geral, mas no começo eu tive um enfrentamento muito grande com a arrogância de muitas pessoas, que era uma coisa assim “Você sabe quem eu sou? Eu não vou cumprir o regulamento do uso do parque porque o prefeito Gilberto Kassab me deve R$ 10 milhões, é eu fazer assim (estalar um dedo) e pronto”.
Tive que ser muito firme, muito dura. Jamais sem educação, mas a ponto de colocar até usuário para fora. Pode ficar no parque desde que cumpra regulamento de uso. O regulamento é a lei do parque, é oficial, está lá em decreto, no Diário Oficial. Na cidade a gente peca por falta de fiscalização, mas aqui dentro, enquanto eu for administradora deste parque as regras são levadas a sério, e muito.
Com vários eu tive que colocar para fora, o que é muito chato. “Eu convido a senhora..., convido ao senhor a se retirar do parque”. E ai me responde: “Ah, não vou”. Explico que vou lhe dar um outro argumento, dar uma escolha que sair com a nossa vigilância ou tem que chamar a Guarda Civil Municipal. Uma pessoa saiu do parque aos berros, xingando “Vocês são um bando de vagabundos!”. Assim, mas saiu com a nossa vigilância.
Eu vim com o intuito de pôr esse parque em ordem. Nós recebemos 500 cachorros por dia em média. Há dois, três anos, o parque era só dos cachorros. Não tinha divisão de uso de área. A fonte que você vê restaurada (na entrada do parque), com água hoje, nós temos arquivo de fotos. Tinha cachorro ali dentro pulando! Aquele gramadão atrás da fonte, que hoje está lindo, era um terrão puro. Era só cachorro, ninguém respeitava regulamento de uso.
Nos canteiros não podem ir cachorros. Pra isso foi feito um cercadinho onde as pessoas podem soltar os cachorros. Havia essa história que o pessoal era um pouco difícil aqui, mas eu não achava que fosse tanto.
Parque Buenos Aires - Avenida Angélica, s/nº (altura do 1.500) - Higienópolis
Fone (11) 3666-8032
Horário de funcionamento das 7h00 às 19h00
Para saber mais:
História do Parque Buenos Aires
Fotos do SOS São Paulo no Flick
Site da Secretaria Muncipal do Verde e Meio Ambiente
Texto/Fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto
A reportagem sobre o parque Bueno Aires, é uma indicação boa, estar neste lugar é esquecer que estamos dentro dessa grande metropole São Paulo.
ResponderExcluirAinda bem que temos pessoas engajadas no bem estar dos Paulistanos para nos presentear com tamanha beleza natural.
Meus parabéns pela determinação Rita de Cássia Ferreira Nakamura.
Um forte abraço! Sucesso!
Monaliza dos Anjos de Sousa
Eu leria esse blog:
ResponderExcluirhttp://parquebuenosaires.blogspot.com/