Entrevista exclusiva com o artista plástico Nicolas Vlavianos
O artista plástico Nicolas Vlavianos, criador da escultura "Progresso" - hoje totalmente abandonada e pichada no Largo Arouche, como denunciamos no post "Progresso? Pobre arte pública...", conversou com a equipe São Paulo Urgente sobre as condições de sua obra, o papel do poder público, das empresas e dos cidadãos na conservação de monumentos e no respeito à arte.
O artista plástico Nicolas Vlavianos, criador da escultura "Progresso" - hoje totalmente abandonada e pichada no Largo Arouche, como denunciamos no post "Progresso? Pobre arte pública...", conversou com a equipe São Paulo Urgente sobre as condições de sua obra, o papel do poder público, das empresas e dos cidadãos na conservação de monumentos e no respeito à arte.
"Progresso" foi criada em 1974, integrada ao programa Arte na Cidade da prefeitura paulistana e, na década de 1990, foi transferida para o Largo do Arouche após uma dessas centenas de ações de "revitalização do centro". Sem restauração, manutenção ou qualquer tipo de cuidado há anos, atualmente o que mais chama a atenção na escultura é seu estado precário, suas inúmeras pichações, ausência de iluminação e esquecimento por parte da prefeitura.
Confira a entrevista na íntegra:
São Paulo Urgente - Alguém procurou o senhor interessado em restaurar a escultura "Progresso" que está no Largo do Arouche?
Nicolas Vlavianos - Não, ninguém me procurou. Essa obra foi repintada uma vez, depois foi repintada de novo e agora está suja mais uma vez, sem ninguém tomar conta.
SPU - Então ela já foi restaurada em outra ocasião?
Vlavianos - Sim, há mais ou menos 10 anos.
SPU – E como é para o senhor, que é criador da obra, vê-la nessas condições? Originalmente, a escultura nem ficada no Largo do Arouche...
Vlavianos - A escultura foi feita para o centro da cidade. Foi recomendado que eu deveria fazer uma obra estreita para poder passar o caminhão do Corpo de Bombeiros. Ela foi feita para um determinado lugar, mas depois resolveram fazer o calçadão na região central e a escultura foi levada para o Largo do Arouche. Originalmente ela estava no cruzamento das ruas 24 Mario e Dom José de Barros. Depois disso a obra foi retirada, repintada e colocada no Largo do Arouche.
Nicolas Vlavianos - Não, ninguém me procurou. Essa obra foi repintada uma vez, depois foi repintada de novo e agora está suja mais uma vez, sem ninguém tomar conta.
SPU - Então ela já foi restaurada em outra ocasião?
Vlavianos - Sim, há mais ou menos 10 anos.
SPU – E como é para o senhor, que é criador da obra, vê-la nessas condições? Originalmente, a escultura nem ficada no Largo do Arouche...
Vlavianos - A escultura foi feita para o centro da cidade. Foi recomendado que eu deveria fazer uma obra estreita para poder passar o caminhão do Corpo de Bombeiros. Ela foi feita para um determinado lugar, mas depois resolveram fazer o calçadão na região central e a escultura foi levada para o Largo do Arouche. Originalmente ela estava no cruzamento das ruas 24 Mario e Dom José de Barros. Depois disso a obra foi retirada, repintada e colocada no Largo do Arouche.
SPU – E quais seriam as causas desse abandono, na sua opinião? É descaso da Prefeitura, que não tem interesse em fazer a manutenção, ou é uma questão de cidadania, de falta de acesso à arte, das pessoas que olham para a escultura e não a entendem como arte?
Vlavianos - Pode ser que existam pessoas que não entendam isso como arte, não há dúvida. Acho que toda forma de arte tem seus adeptos e também tem pessoas que consideram algo sem importância.
Vlavianos - Pode ser que existam pessoas que não entendam isso como arte, não há dúvida. Acho que toda forma de arte tem seus adeptos e também tem pessoas que consideram algo sem importância.
Agora, como ela foi colocada lá no Largo do Arouche, num lugar bastante privilegiado, acho que todo mundo considera uma obra de arte. Todos percebem que se trata de uma obra de arte - a Prefeitura o Estado, que tomam conta, por assim dizer, da cidade. Não colocariam algo sem valor num lugar tão privilegiado.
O público percebe a escultura "Progresso" como obra de arte, uma obra importante por ser colocada neste lugar. Só que o vandalismo sempre existe em obras de arte. Qualquer casa ou prédio estão sujeitos a serem pichados. É algo que nós não podemos evitar.
Não adianta nós falarmos, querermos educar. Não adianta querer que todo mundo respeite porque nós mesmos às vezes não respeitamos certas regras. Passamos na fila na frente dos outros, por exemplo. Querer ser o primeiro significa não respeitar o outro. Depois queremos que os outros respeitem.
É muito difícil, a cidade é muito grande. Em uma pequena cidade todo mundo se conhece, todo mundo respeita o seu vizinho. Mas se é uma cidade grande as pessoas vem dos mais variados locais fora do centro e dizem "bom, vamos pintar, vamos escrever naquela obra ali" ou "vamos pichar este prédio" e consideram isso um ato de coragem, um ato heróico até. Então é difícil.
Agora, difícil ou não, a Prefeitura, o Estado ou qualquer um que tem a responsabilidade de zelar pela coisa pública - porque é isto que quer dizer República, Res publica é a coisa pública - alguém tem que tratar, tem que restaurar, alguém tem que cuidar para não ser vandalizada. Este é o problema.
É muito difícil, a cidade é muito grande. Em uma pequena cidade todo mundo se conhece, todo mundo respeita o seu vizinho. Mas se é uma cidade grande as pessoas vem dos mais variados locais fora do centro e dizem "bom, vamos pintar, vamos escrever naquela obra ali" ou "vamos pichar este prédio" e consideram isso um ato de coragem, um ato heróico até. Então é difícil.
Agora, difícil ou não, a Prefeitura, o Estado ou qualquer um que tem a responsabilidade de zelar pela coisa pública - porque é isto que quer dizer República, Res publica é a coisa pública - alguém tem que tratar, tem que restaurar, alguém tem que cuidar para não ser vandalizada. Este é o problema.
Nós estamos num regime republicano, mas as coisas públicas ninguém respeita. Os que estão para zelar não se interessam muito e tem inúmeros monumentos que foram destruídos dessa maneira. O monumento que foi feito em homenagem ao Garcia Lorca foi também vandalizado.
A escultura "Progresso" é bastante grande e forte para poder resistir aos vândalos. Se fosse uma obra menos consistente, iam quebrar, pegar pedaços. Isso é muito comum e não acontece só no Brasil. Acontece em todo lugar. O governo toma conta dos lugares. Você não pode atirar pedras num templo antigo, não pode pintar em cima de uma imagem gótica, mas não adianta, tem que tomar conta.
Eu acho que não só os poderes públicos, mas também grandes empresas que se interessam por cultura, pelos bens culturais, tem que se interessar também e não é só culpar o governo. O governo também tem sua parte na culpa, mas também tem os outros. As empresas tem tomar conta também. Acho muito importante.
Aliás, acho mais importante que empresas como a Votorantim (parceira da Prefeitura paulistana na restauração de obras artísticas e monumentos), ou outra grande empresa, se interessar pela cultura ou por São Paulo do que os poderes públicos. O poder público muitas vezes não se interessa muito.
A Votorantim, por exemplo, é uma empresa que tem como presidente uma pessoa muito importante, então tem também que se sensibilizar.
A Votorantim, por exemplo, é uma empresa que tem como presidente uma pessoa muito importante, então tem também que se sensibilizar.
Leia mais neste blog no post "Progresso? Pobre arte pública.."
Acesse o site oficial de Nicolas Vlavianos - www.nicolasvlavianos.com.br
Acesse o site oficial de Nicolas Vlavianos - www.nicolasvlavianos.com.br
Texto/Fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto
Fotos de Nicolas Vlavianos - site oficial do artista plástico
Vim externar minha admiração pela ação de vocês... Só mesmo trazendo à luz, conscientizando, que mudanças podem ocorrer. Vou continuar acompanhando-os porque tenho visto aqui não lamentos passivos, mas demosntrações de atitudes diferenciadas de quem faz valer o dia a dia, integrando-se sem se deixar corromper.
ResponderExcluirÉ isso aí