25 de nov. de 2009

“O CREDOR DA FAZENDA NACIONAL” , DE 1866, CONTINUA ATUAL

SOS São Paulo – A cidade em nossas mãos

José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo. Imagem do livro "Teatro completo" Todo esse desrespeito e descaso dos órgãos públicos diante da queixa de um munícipe me faz lembrar da peça “Um credor da fazenda nacional”. É um ótimo texto escrito em 1866 pelo dramaturgo gaúcho José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo.

Há 143 anos, Qorpo Santo já narrava a verdadeira saga do personagem Credor na tentativa de receber uns trocados devidos pela Fazenda Nacional. Em 1999, a Cia São Jorge, com direção de Georgete Fadel, fez uma das melhores montagens teatrais que já vi, com a atriz Patrícia Gifford numa interpretação impecável do pobre Credor.  

O Credor se perde entre corredores, funcionários sacanas, pilhas de papéis, morosidade e todo o lixo que integra a burocracia do serviço público. Eu não quero receber nenhum centavo. Só quero que a COVISA me responda que providência tomou em relação a um grupo de funcionários públicos corruptos.

Compartilho alguns trechos de “Um credor da Fazenda Nacional”. Para acessar a íntegra (arquivo em PDF) clique aqui.

Ato primeiro
(…)

Credor – Não tenho melhor resolução a tomar, que a de sentar-me em uma das cadeiras desta repartição e nela esperar até que se me pague.
Certo Indivíduo – Então, por quê?
Credor - Ora, porque!? Porque não dou um passo que não encontre um ,que não me peça o aluguel da casa. Outro, que não me peça... que não me fale!...

Ato segundo
Salão em que trabalham diversas seções

Credor (entrando) – É a vigésima... não me lembro se quinta ou sétima vez que venho a esta casa haver aluguéis de casa! E talvez ainda hoje saia sem dinheiro! (À parte:) Mas eles hão de se arranjar! (A um dos empregados, o Contador:) Vossa Senhoria faz-me o obséquio de dizer se está despachando o conteúdo, ou quer que seja, quando a um requerimento que aqui tenho?
Contador – Será... (lendo) Castro... Car... Cirilo, Dilermando!?
Credor – Não! É um requerimento meu, assinado – José Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo.
Contador – Ah! Esse está no chefe da quarta seção.
Credor – Bem, então lá irei. (Dirigindo-se ao chefe:)Faz-me o obséquio de dizer sejá está despachado um requerimento que aqui tenho?
Chefe (apontado) – Fale ali com o Sr. Barbosa.
Credor (dirigindo-se a este) – Ainda não encontrou o que procurava a meu respeito?
Barbosa – Ainda não! Há aqui tantos papéis!

(…)

Chefe
– V. Exa. Não adianta nada em esperar aqui! Antes atrasa o serviço para
conseguir o que quer; deixe estar que está se trabalhando!
Credor – Eu, nem venho interromper, nem venho adiantar! Mas apenas saber! Parece-me cousa tão simples; tão fácil…
Por Flaviana Serafim

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