Povos de São Paulo, tribos do mundo
Por Nei Schimada
Eu tenho um réptil. Ele tem a mim. Na verdade, é ela, é uma tartaruga fêmea chamada Táta. Parece pintada a mão, linda, nascida na Florida para ser pet de gente – como eu – que acha bicho com pêlo barulhento e feito para os quintais e não para os pequenos sobrados japoneses.
A Táta passa a vida me ignorando e se esquecendo da nossa relação. Naquele cérebro que deve ser menor que a ponta do meu dedo mindinho, ela só guarda os caminhos pela casa e a hora de comer. Sabe a direção do sol nascente e espera, paciente e secretamente, a luz da manhã para seu esporte predileto: tomar um banho de sol.
Nesses dias até o inicio do inverno, ela vai começar uma hibernação que vai atá a primavera do ano que vem, meados de abril. Não comemora o primeiro de janeiro, as vitórias, as ideologias e nem o próprio aniversário. Ela comemora a vida, dia após dia, e não se importa em abanar o rabo para sobreviver.
A humanidade comemora, celebra, festeja. É a risada. Está em todas as culturas e povos. A risada veio antes da escrita, é anterior à história, aos fatos. Com a escrita e as gargalhadas, a humanidade viu que era bom e criou a cultura e a ideologia. Depois, diz a lenda, foi descansar no sétimo dia.
A ideologia baseia-se em verdades, listas e abismos, ideologistas e ideologismos. Entra muito coração nisso também. Com a fragmentação de tudo – absolutamente tudo – no século 20, qualquer palavra, solta no concreto e no abstrato, cuida de separar-se do resto e criar uma sólida redoma defensora de grandes tudos contra outros nadas baseados em perfeitos vazios.
Qualquer coisa, coisa, palavra, substantivo, adjetivo, está nas mãos dos ideólogos: hoje sou vermelhista; amanhã adotarei meu visceral colchãonismo e passarei o dia deitado; já fui um bom lasanhista, mas o cardiologista disse umas coisas, sabe como é.
Até mesmo esse meu pseudo - outra palavrinha sacana - anarquismo entra no rol dessa reclamação toda que é um grande nada baseado num grande vazio.
Nas nossas eternas fantasias acreditamos que somos especiais porque lemos coisas bacanas, ouvimos músicas raras, tomamos vinhos importados e temos na cozinha um utensílio criado por um designer de nome impronunciável.
Lerebi, mai frendi.
A Táta acordou e esta dando um role outonal pelo andar de baixo batendo o casco no piso de madeira a cada passo capenga. Não queria ser como ela porque não sei se ela é feliz. Não acredito que ela saiba o que é felicidade.
Infeliz de quem sabe.
Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em:
DA AVENIDA IPIRANGA À PEQUENA BENÇÃO PELAS COLHEITAS
A SEGUNDA NUNCA SERÁ A PRIMEIRA
IDIOMAS, IPSIS LITTERIS
DE CÁ PRA LÁ, BALANGANDO
NA PRÓXIMA QUARTA E OUTRAS DA SEMANA
AMIGOS, OS DISCOS, OS VINHOS – OS CARAS IMORTAIS
BOM BOM
A CORRIDA DE SÃO SILVRESTRE – OBSCURAS ORIGENS
TEM ESSA E OUTRAS PIORES
PAULISTANO QUE É PAULISTANO NÃO CHORA
ROBERTOS, CARLOS
TODO IMIGRANTE É A PULGA ATRÁS DA ORELHA
O que importa nossa cultura?Toda a nossa confiança na ciência? Nossas invenções sobre Deus?
ResponderExcluirO capital é tão importante assim?
Quem escraviza os seus semelahantes? A Táta ou o humano?
Será que ainda não percebemos que somos apenas poeirinha da poeira.A própria ciência a quem devotamos tanta confiança diz que a Terra é apenas um grão de areia no meio da galáxia que está no meio de outras milhões de galáxias.Portanto,desça agora do pedestal que criou "ser superior".
Aproveite a sua efêmera estadia na Terra,pois,um dia ela acabará.
TARTARUGA, AI, AI, TARTARUGA.MEU DEUS
ResponderExcluirNasci no interior do Brasil mais precisamente em Astorga no Paraná uma cidade pequena e pacata. Sou de uma família de músicos meu pai violoncelista tinha a única camerata da região minha casa tinha música e tranqüilidade, não pensávamos onde estávamos ou quem éramos vivíamos o dia a dia, ausentes do conceito ( existo sou feliz ?) Simplesmente éramos a cada dia conhecíamos como a Tata, o caminho da cozinha da diversão de estarmos e tocarmos juntos . Só conheci toda esta malandragem egóica, esta briga de foice aqui neste vale de pedras inemocional.
ResponderExcluirEu tenho uma tarturuga que se chama Manuela, outro dia ela caiu e quase quebra a costela.
ResponderExcluirSó não quebrou o pescoço por causa do casco dela.
E se livrou do pior porque ia pra panela.E só come bananinha não tem dente é banguela. Deus abeçoe. Gente. Boa conversa essa aí.