3 de jun. de 2009

PAULISTANO QUE É PAULISTANO NÃO CHORA

Povos de São Paulo, tribos do mundo

Nei Schimada Por Nei Schimada

Em 1985, o Professor Victor José C. P. de Machado Filho, criou o teste "Paulistano Que É Paulistano Não Chora" para ser usado nas escolas. A Secretaria de Educação vetou o projeto e Victor José mudou-se para Belgrado, onde vive lecionando e traduzindo poemas bizantinos para o português.

Alguns trechos do teste foram salvos da grande enchente de 1987, a famosa "enchente da lata", e aqui publicamos:

Trecho da introdução:
"Toda pessoa que nasce na cidade de São Paulo foi geneticamente desenhado para não gostar de outro lugar a não ser São Paulo. Se não é um fato, é uma verdade.

O paulistano tem uma coisa dentro de si que é achar que vive numa espécie de Nova Iorque tropical. Diz até delivery sem sotaque, como se a palavra tivesse nascido ali no Largo do Paissandu.


O paulistano não concorda com o estilo neocolonial dos americanos porque o deles é muito limpo para ser antigo. O nosso, sujo do diesel dos ônibus, caminha - eternamente - para o esquecimento. E é tão novo quanto o deles. Conte quantas linhas de ônibus passaram ao redor do Teatro Municipal nos últimos anos e verá o custo do escrúpulo com a cultura de uma cidade".


Algumas questões:

Q26. Você considera que:

a) Todo mundo que nasce na margem sul do Rio Paranapanema é argentino.
b) Se usar perfeitamente os singulares e plurais numa frase é um estrangeiro.
c) Todo brasileiro que não é paulistano é estrangeiro.
d) Todas.

Q39. Na rua: Você percebe que a pessoa do lado é estrangeiro quando:

a) Ele está paciente na faixa de pedestre para atravessar a rua.
b) Ele está na faixa de pedestre.
c) Ele guardou o papel de chiclete no bolso.
d) Ele tossiu e não cuspiu.

Q45. O que é pior?

a) Uma pessoa que esteve em São Paulo por dois dias e diz para todo mundo que morou em São Paulo.
b) Outro que nunca esteve em São Paulo e diz que odeia cidade grande.
c) Os dois chegando na sua casa.
d) Você indo na casa de um deles.

Q67. Você sabe que é cosmopolita porque:

a) Come pratos típicos do mundo todo numa viagem do metrô.
b) Seu bisavô é europeu, o outro é índio, sua sogra é oriental e você não troca nada por um bom Fassbinder no sábado à noite.
c) Você sabe dizer palavrões em mais de dez idiomas.
d) Você gosta de lugares com apóstrofo no nome, tipo Souza's.

Q68. Você sabe que não é provinciano porque:

a) A palavra "típico" tem uma acepção válida para lugares distantes.
b) Não precisa saber onde são Paranapiacaba e Itaquaquecetuba, basta saber que estão lá.
c) Sabe que pode comprar flores de madrugada no Largo do Arouche ou na Doutor Arnaldo.
d) Ou comer uma feijoada às cinco da manhã no Bolinha.

Q100. Paulistano que é paulistano não chora porque:

a) Nasceu na melhor cidade do mundo, está aconstumado com isso.
b) Nasceu na pior cidade do mundo, está acostumado com isso.
c) Sabe que a menor distância entre dois lugares não é uma avenida reta.
d) Acha tunning car uma coisa cool, sabe ser in e transa feng chui at home.

Mas paulistano chora. Chora pelo Palestra, pelo Tricolor, pela Burra, pelo Timão. Chora por tudo e por todos. Chora quando está longe. Chora quando está chegando perto. Chora quando a porta do Boeing abre e aquele cheiro típico de gasolina de aeroporto entra nas narinas e ele acha que é a poluição da vida toda lhe chegando ao coração.

Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em:
ROBERTOS, CARLOS
TODO IMIGRANTE É A PULGA ATRÁS DA ORELHA
FUNICULI FUNICULÁ NA VIRADA CULTURAL
DEMAGOGIA FRANCA
QUEM TE VIU, QUE TE VÊ
A GALÁXIA DOS AFÔNICOS
NATSUKASHI
SILÊNCIOS
O PATO
JANELA DE COZINHA
LA MISTICA, CAPISCI?
ESPERANDO ROSA
ANHANGABAÚ
FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA TERRA

3 comentários:

  1. Raul Apolinario Junior3 de junho de 2009 às 20:56

    Eu choro todos os dias...Acho que ta ficando são Patologico...Ces não acham?

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  2. Não, Raul, não é patológico não. Não faltam motivos pra chorar vivendo em São Paulo. Dá pra chorar de tristeza vendo menino de rua todo encolhido, deitado no chão nesse frio de menos de 10°. E também dá vontade de chorar quando se entra no Cine Olido pra ver um filme árabe, do outro lado do mundo, numa cidade de gente de todos os cantos como a nossa. Dá vontade de chorar ao ver o repentista perto da praça da Sé, tocando e passando o chapéu pra ganhar um trocados, mas feliz da vida. Vamos chorar mesmo, sem culpa!

    Um abraço a você e gratos por acessar nosso blog.

    Flaviana e Gladstone

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  3. Mario Hanashiro Ymamura7 de junho de 2009 às 00:00

    Eu não choro, minha cidade só me da motivo de Alegria...Viva SP

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