Acabo de assistir na NHK um documentário sobre um urbanista que fez maquetes 3D da cidade de Hiroshima e faz palestras para estudantes com elas. São várias maquetes históricas, desde 1840 até o dia 5 de agosto de 1945, um dia antes da bomba, e no dia 7 de agosto, um dia depois.
Ele tinha três anos de idade na ocasião e estava na casa dos avós, que era num sítio a 50 quilômetros de distância de Hiroshima, enquanto seus pais procuravam emprego na cidade.
O meu problema com documentários na tv japonesa é que presto tanta atenção no texto para tentar decifrar algumas palavras e citações que acabo esquecendo o nome das pessoas. E sempre penso, na próxima anoto alguma coisa. Nunca mais vou saber ou lembrar o nome desse urbanista.
O fato de vermos as maquetes e observarmos o desenvolvimento da cidade nos 100 anos anteriores à bomba é muito mais comovente. Todos sempre pensam nas fotos em pretos e brancos pós-devastação, na Rosa de Hiroshima do poema de Vinicius ou nas pessoas mutiladas, mortas, inexatas.
Pelo fato de ser uma cidade portuária, o desenvolvimento cultural era grande. No fim do século 19, com a reforma Meiji, vários navios estrangeiros traziam novidades para esse grande porto ao sudoeste do Japão. Muitas pessoas queriam aprender inglês e holandês para terem mais contato com os gaijins dos grandes vapores cheios de novidades, desde a vestimenta e alimentos às maravilhosas máquinas de teares que encantavam os promissores ex-senhores feudais, que buscavam uma nova forma de enriquecerem na nova sociedade capitalista e burguesa que surgia.
Nas maquetes mostradas, aparecem desde onde foram instalados os primeiros semáforos até onde aconteceram os primeiros engarrafamentos de trânsito com, pasmem, dez ou quinze automóveis, pois aos domingos, os ricos iam ao centro para tomarem a grande maravilha do ocidente: o sorvete.
Em 1914 construíram o que é hoje o Genbaku Dome (foto) ou A Cúpula da Bomba Atômica que estava 150 metros de onde foi o hipocentro da explosão. Foi originalmente construído para a “Exposição Comercial da Prefeitura de Hiroshima”, celebrando justamente a absorção cultural do antigo império feudalista por novos valores burgueses da revolução industrial emergente na Europa. Seria um símbolo para o encontro entre o ocidente e o oriente no esperançoso inicio do século 20.
Ironicamente, manteve-se em pé com a explosão e virou um monumento de esperança para a paz mundial e a eliminação total de todas as armas nucleares.
Ele tinha três anos de idade na ocasião e estava na casa dos avós, que era num sítio a 50 quilômetros de distância de Hiroshima, enquanto seus pais procuravam emprego na cidade.
O meu problema com documentários na tv japonesa é que presto tanta atenção no texto para tentar decifrar algumas palavras e citações que acabo esquecendo o nome das pessoas. E sempre penso, na próxima anoto alguma coisa. Nunca mais vou saber ou lembrar o nome desse urbanista.
O fato de vermos as maquetes e observarmos o desenvolvimento da cidade nos 100 anos anteriores à bomba é muito mais comovente. Todos sempre pensam nas fotos em pretos e brancos pós-devastação, na Rosa de Hiroshima do poema de Vinicius ou nas pessoas mutiladas, mortas, inexatas.
Pelo fato de ser uma cidade portuária, o desenvolvimento cultural era grande. No fim do século 19, com a reforma Meiji, vários navios estrangeiros traziam novidades para esse grande porto ao sudoeste do Japão. Muitas pessoas queriam aprender inglês e holandês para terem mais contato com os gaijins dos grandes vapores cheios de novidades, desde a vestimenta e alimentos às maravilhosas máquinas de teares que encantavam os promissores ex-senhores feudais, que buscavam uma nova forma de enriquecerem na nova sociedade capitalista e burguesa que surgia.
Nas maquetes mostradas, aparecem desde onde foram instalados os primeiros semáforos até onde aconteceram os primeiros engarrafamentos de trânsito com, pasmem, dez ou quinze automóveis, pois aos domingos, os ricos iam ao centro para tomarem a grande maravilha do ocidente: o sorvete.
Em 1914 construíram o que é hoje o Genbaku Dome (foto) ou A Cúpula da Bomba Atômica que estava 150 metros de onde foi o hipocentro da explosão. Foi originalmente construído para a “Exposição Comercial da Prefeitura de Hiroshima”, celebrando justamente a absorção cultural do antigo império feudalista por novos valores burgueses da revolução industrial emergente na Europa. Seria um símbolo para o encontro entre o ocidente e o oriente no esperançoso inicio do século 20.
Ironicamente, manteve-se em pé com a explosão e virou um monumento de esperança para a paz mundial e a eliminação total de todas as armas nucleares.
Aproveitaram a visita do presidente Obama a Tokyo para transmitirem tal documentário pelo fato de que ele disse que faria todos esforços para eliminar as milhares de ogivas nucleares pelo mundo.
Além de palestras com suas maquetes históricas, o urbanista também entrevista os últimos sobreviventes de 1945. Todos são os derradeiros de suas famílias, os únicos. Quase todos ainda carregam as mazelas radioativas, muitos são senhores e senhoras, pessoas solitárias que não tiveram famílias, esposos e filhos por acharem que poderiam passar seus males para as próximas gerações e não queriam que o sofrimento continuasse. Todos choram durante as entrevistas, o urbanista, os entrevistados, produtores. A idéia era mandar a fita para o presidente americano. Nada mais oportuno, o atual tem um Nobel da Paz por antecipação.
O homem mais poderoso do mundo há que fazer muito pra tal merecimento. Pode iniciar tudo apenas assistindo aos depoimentos munido de pipoca, lenço de papel e caneta para assinar alguns decretos para honrarmos, com tranqüilidade, o futuro da humanidade.
Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em: Além de palestras com suas maquetes históricas, o urbanista também entrevista os últimos sobreviventes de 1945. Todos são os derradeiros de suas famílias, os únicos. Quase todos ainda carregam as mazelas radioativas, muitos são senhores e senhoras, pessoas solitárias que não tiveram famílias, esposos e filhos por acharem que poderiam passar seus males para as próximas gerações e não queriam que o sofrimento continuasse. Todos choram durante as entrevistas, o urbanista, os entrevistados, produtores. A idéia era mandar a fita para o presidente americano. Nada mais oportuno, o atual tem um Nobel da Paz por antecipação.
O homem mais poderoso do mundo há que fazer muito pra tal merecimento. Pode iniciar tudo apenas assistindo aos depoimentos munido de pipoca, lenço de papel e caneta para assinar alguns decretos para honrarmos, com tranqüilidade, o futuro da humanidade.
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Foto da Cúpula da Bomba Atômica: Nei Schimada
Que humanidade? E que futuro?
ResponderExcluirÉ... eis aí a questão! Qual será o futuro da humanidade em meio a esse caos denso que a mesma atravessa? Ainda vivemos os fortes e perniciosos ranços da civilização, desmatamentos, agressões à natureza, ao meio ambiente, ao próprio ser humano... O que importa mesmo é o que será feito daqui prá frente! Demagogias e politicagens existem aos borbotões, mas ainda falta muito para uma "virada" efetiva e potente; por enquanto as coisas estão no nivel das palavras. Acredito que este planeta irá "começar" a mudar para melhor quando os governantes mudarem as leis econômicas que regem toda essa parafernália incoerente! Até lá, continuaremos navegando neste barco de infelizes surpresas que se tornou o tão lindo planeta Terra... um abraço e fiquem na paz.
ResponderExcluirthe Osmar