Povos de São Paulo, tribos do mundo
Por Nei Schimada
Não sou ecológico como deveria ser, mas fico indignado diante de barbáries que acontecem em zoológicos com jaulas imundas e pequenas demais para a vida (sobrevida?) de alguns animais lá instalados.
Elefantes que vivem em florestas indianas pra lá e pra cá, nômades, gordos e felizes, ganham um espaço menor que um campo de futebol. Claro que é para facilitar a quem pagou o ingresso para ir visitá-los.
Mas sou ecológico o suficiente para não jogar nada, nem cuspir chiclete pela janela do carro e para selecionar o lixo daqui de casa.
Lembro do filme “Medicine Man” (1992), com Sean Connery. Ele faz o papel de um cientista que se embrenha no meio da floresta amazônica e fez a descoberta do câncer. Qualquer câncer. O problema é que ele não consegue reproduzir em laboratório a química da tal flor que só cresce a trinta metros do solo no topo de uma específica árvore. Depois ele descobre que o importante mesmo não é a flor, mas o inseto que mora no interior dela. Então, chega um pecuarista e bota fogo em tudo. Correm ele, sua assistente e a tribo toda para o meio do imensamente tudo atrás de outra específica árvore, com a mesma flor e o tal insetinho cujo cocô freia as células mutantes do nosso corpo.
Fico pensando nos gorilas e orangotangos que morrem para perder apenas as mãos por serem iguarias caras no prato de gente muito, mas muito esquisita e com gosto duvidoso com uma travessa contendo uma mão de gorila e algumas batatas assadas ao redor. Molho madeira. Ou os tigres que morrem na China para que moam o pênis do felino para virar um pó mágico para outros pênis tristes e cabisbaixos que acreditam na milenar medicina chinesa de cobras, ervas, pedras, pênis e insetos em contrapartida à famosa pílula azul.
Pior mesmo é a situação dos bichos nas mãos dos cientistas. Até mesmo dos criadores da famosa pílula azul. Durante os experimentos, alguns macacos devem ter ficado eretos e excitados por horas e um cientista – pervertido – olhando para a jaula com um cronômetro na mão.
Há alguns dias, alguns desses símios com o cérebro na ponta do membro em estudo, escaparam e espalharam-se pelos corredores e salas de uma faculdade de um grande centro urbano e a mídia toda registrou.
Todos os discentes bugios em bandos resfolegaram, ganiram, correram, bateram as mãos no peito e gritaram diante da fêmea alfa que estava apenas mais fêmea que nos outros dias. Há o registro de um deles subindo pelas paredes.
Todo mundo sabe disso, assistiu, discutiu, opinou, riu.
Como é mais fácil lidar com a perda de uma e não de setecentas mensalidades, a tal faculdade do grande centro urbano resolveu expulsar a moça. Na contabilidade dos cifrões (evidentemente necessários) o pragmatismo impera sem titubeio. Mas na civilidade não.
O exemplo dado pela tal instituição de ensino, cultura e educação ecoa e ecoara pelos corredores locais como os gritos bestiais de alguns exemplares dos podres primatas de uma elite machista masturbatória, individualista e infeliz.
Meu medo é que esse fato estudantil e essa atitude institucional tornem-se corriqueiros e recorrentes, por isso volto dias depois e falo tudo de novo, não por moralismo beato e cristão, mas por defesa da condição humana, pura e simples. Como se, em contrapartida, não bastassem as burcas afegãs ou as metralhadoras vendidas como picolés nas fronteiras do cone sul.
Não foi por receio de retaliações que não citei o nome da faculdade. Mas por nojo.
Também acho que deve ter um monte de gente bacana e bem intencionada por lá. Aproveitem, fim de ano, bom período para transferências.
Olha o currículo...
Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em:
LISTAS E ABISMOS
DA AVENIDA IPIRANGA À PEQUENA BENÇÃO PELAS COLHEITAS
A SEGUNDA NUNCA SERÁ A PRIMEIRA
IDIOMAS, IPSIS LITTERIS
DE CÁ PRA LÁ, BALANGANDO
NA PRÓXIMA QUARTA E OUTRAS DA SEMANA
AMIGOS, OS DISCOS, OS VINHOS – OS CARAS IMORTAIS
BOM BOM
A CORRIDA DE SÃO SILVRESTRE – OBSCURAS ORIGENS
TEM ESSA E OUTRAS PIORES
PAULISTANO QUE É PAULISTANO NÃO CHORA
ROBERTOS, CARLOS
TODO IMIGRANTE É A PULGA ATRÁS DA ORELHA
GEISY É EXPULSA DA UNIBAN. VEM AÍ O CARNAVAL TALIBÃ
GEISY, O VESTIDO CURTO E A HIPOCRISIA BRASILEIRA
Grande Shimada!!! Curtí muito esta tua "facada ecológica", muito mesmo! Sabe, fiquei pensando e cheguei à conclusão que "não dá prá confiar no julgamento de marmanjos que, em pleno século XXI, ainda fazem questão absoluta de justificar o uso de paletó e gravata num país com as fortes temperaturas como o nosso e, também, em "marmanjas" que ainda acham maravilhoso andar por aí de salto 10, todas emperequetadas e coisa e tal - tudo isso prá justificar o injustificável: um falso moralismo secular imbecil e sem conteúdo de coerência! Afinal, quem está certo: o homem ou o macaco??? Um forte abraço prá tí, Shimada.
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