24 de mai. de 2009

HISTÓRIAS DE ONTEM E HOJE NA RUA MARIA ANTONIA

São Paulo lado A,B,C,D…

Numa rua pequena, grandes acontecimentos

Mais fotos no Flickr

Fotos da “batalha” na rua Maria Antonia em outubro de 1968,
registradas por Hiroto Yoshioka (acervo do Centro Universitário Maria Antonia)

Clique para ampliar Clique para ampliar Clique para ampliar

Os dois lados da rua se revezavam em ataques e contra-ataques. Era só uma turma dar alguns passos para trás para o outro grupo assumir uma postura mais agressiva. Ofensiva. Eram ondas de fúria e valentia. Quase uma briga com coreografias. Quando a Filosofia parava para tomar fôlego e se reabastecer de pedras, o Mackenzie vinha para cima com tudo o que estivesse à mão. (…) No chão, centenas de pedras e fragmentos de tijolos. Uma nuvem espessa de poeira cobriu o quarteirão. Havia fumaça em toda a a extensão da Maria Antonia. Era guerra”.

O trecho assim está no livro “Maria Antonia, a história de uma guerra”, do jornalista Gilberto Amendola, e é uma boa descrição do conflito travado nessa rua há mais de 40 anos – especificamente em 1968 - entre estudantes do Mackenzie , à direita – e que estudantes de Filosofia da Universidade de São Paulo, à esquerda. Aqui, direita e esquerda realmente não definem só os lados de uma via, mas as crenças de uma época onde não havia espaço para ficar “em cima do muro”.

Centro Universitário Maria Antonia. Foto de Gladstone Barreto. Clique para ampliar O estrago na então faculdade de Filosofia da USP foi tão grande que o prédio ficou fechado e só muitos anos depois foi reformado, dando lugar ao atual Centro Universitário Maria Antonia. Um estudante também foi morto, era o jovem, José Guimarães, de apenas 20 anos, estudante do 3º colegial da escola Maria Cintra.

Nessa “guerra” da rua paulistana em pleno 1968, personagens como o escritor Mario Prata, o pintor Claudio Tozzi, o ex-ministra do Casa Civil, José Dirceu, e a dramaturga Consuelo de Castro, entre outros. Personagens de uma geração inquieta, que lutou contra a ditadura e fez história no país.

Hoje, os tempos são outros, o Brasil mudou e a ditadura – ainda bem! se foi. Aquela rebeldia já não é mais necessária (será?), mas a rua Maria Antonia continua cheia de estudantes e com muita história pra contar.

Fotos da Rua Maria Antonia em maio de 2009

Rua Maria Antonia em 2009. Foto de Gladstone Barreto. Clique para ampliarRua Maria Antonia em 2009. Foto de Gladstone Barreto. Clique para ampliar Rua Maria Antonia em 2009. Foto de Gladstone Barreto. Clique para ampliar

Saiba imagemais:
site oficial do Centro Cultural Maria Antonia
Livros: 
“Maria Antonia – a história de uma guerra”, de Gilberto Amendola. Editora Letras do Brasil, 2008
”Maria Antonia: uma rua na contramão”, organizado por Maria Cecilia Loschiavo dos Santos. Editora Nobel, 1988

Texto/fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto

19 de mai. de 2009

UM ALMOÇO DIFERENTE NO INSTITUTO ÁFRICA VIVA

Povos de São Paulo, tribos do mundo

O Instituto África Viva, organização não governamental que divulga a arte e a cultura da República da Guiné (oeste africano) no Brasil, promove um almoço originalíssimo, neste domingo (24.05), a partir das 12h00 no Bambu Brasil Bar (Rua Purpurina, 272 - Vila Madalena).Fanta Konate. Clique para ampliar

No cardápio, além dos pratos típicos da Guiné, haverá palestra a cultura Mandén (do Império Mandinga, sec. XIII), mostra de vídeo e pocket show com música e dança guineana ao vivo. Nos vocais – e também na cozinha - as irmãs Fanta e Fadima Konate são absolutamente surpreendentes, impecáveis e mostram tudo de bom que a África tem – alegria, colorido, graça, ginga, harmonia.

O prato principal é o Mankorô Nidjé, de manga com peixe e dendê, acompanhado de molho Tiadjí, feito de amendoim com carne ou proteína de soja na versão vegetariana. Outra delícia são as bebidas tradicionais da Guiné - o Djindjan, a base de gengige, e o Bissab, preparado com hibisco.

Fanta e Fadima são guardiãs da cultura malinkê

Abandone seus preconceitos e experimente esses pratos típicos. São deliciosos e Fanta Konate é uma cozinheira excepcional. Do mesmo modo que os velhos griôs africanos, responsáveis pela transmissão da cultura ancestral às novas gerações, Fanta e sua irmã Fadima são guardiãs da arte e sabedoria de seu povo, seja dançando e cantando, ou mesmo preparando os almoços e festas tradicionais guineanos do Instituto África Viva. É imperdível!

O evento - Campanha Guiné 2010 - é beneficente e toda a renda é revertida às atividades da ONG que, agora, enfrenta o desafio de manter, lá na África, uma unidade que desenvolva o mesmo trabalho artístico, cultural, educativo, social e humanitário realizado no Brasil. O convite antecipado custa R$ 30,00 ou R$ 35,00 no dia do almoço (bebidas não inclusas).

Música e dança são a base da vida malinkê

Outro ótimo motivo para participar do almoço é assistir ao pocket show de Fanta Konate. Na cultura malinkê da família de Fanta e Fadima, a dança e a música estão enraizadas em todos os momentos da vida – nos casamentos, nascimentos, batizados, circuncisões e no cultivo da terra. Cada um tem seu ritmo, dança e celebração. Acesse o MySpace e ouça já! Ou acesse o site oficial de Fanta Konate.

Fora isso, Fanta e Fadima são filhas de Famoudou Konate, percussionista e mestre de djembe que está entre os mais reconhecidos do mundo, referência quando se fala em arte no oeste africano.

Almoço do Instituto África Viva
24 de maio (domingo), das 12h00 às 20h00
Bambu Brasil Bar - Rua Purpurina, 272 – Vila Madalena
Convite antecipado: R$ 30,00. No local - R$ 35,00
Informações: 3368-6049
Sites oficias: Fanta Konate –
www.fantakonate.com
Instituto África Viva –
www.africaviva.org.br
Fanta Konate no
MySpece

Leia também: África, Japão e Percussão

18 de mai. de 2009

ROBERTOS, CARLOS

Povos de São Paulo, tribos do mundo

Por Nei Schimada

Naquela época do ano que de noite ainda é aquele friozinho aconchegante e de dia um sol confortável. As crianças no quintal e as duas na cozinha.
- Pode por mais pimenta, mãe, ele gosta bem quente.
Alzira e a mãe preparavam o almoço do dia dos pais com o zelo redobrado. Roberto telefonou dizendo que já estava no Espírito Santo, garantindo que chegava pro almoço.
- Chegou, mãe!
Encostou o bruto em frente ao sobrado com as seis criaturas esperando na calçada, em frente ao portão, Alzira, quatro filhos e a sogra. Beijos, abraços e Alzira limpando os olhos no avental.
Almoçaram com Roberto contando da batida na BR na altura de Ilhéus, o fuzuê das viaturas da rodoviária, bombeiros, a carga contrabandeada que sumira na multidão.
- Filho, vai na boléia e traz a caixa azul grande.
Cd player, mixer, games, tênis importado, presente pra todo mundo. Ganhou dos filhos uma camisa da Seleção.
- O tênis eu trouxe de encomenda, filho, deixa lá.
Alzira olhou para a mãe. A velha entendeu, pegou as crianças e foram todos para a praça com a promessa de sorvete e algodão doce. Fizeram daquele amor de gestos rápidos, respiração forte, grandes gotas de suor pelo quarto. Gritos filtrados na mordida na mão. Movimentos contínuos irracionais. As roupas em algum lugar entre o corredor e o travesseiro.
- Pega uma água na cozinha pra sua Zira, pega?
Nem respondeu. Saiu da cama nu e foi para a cozinha. Aproveitou, deu uma passada na geladeira e pegou uma lata de cerveja.
- O senhor foi descalço pra cozinha e vai subir na cama de pé sujo?
Nesse momento, Roberto percebeu que realmente estava de volta, tinha chegado em casa. Não respondeu. Entregou o copo d'água e abriu a lata.
- Vou para a várzea.
Tomou um banho, vestiu uma roupa, deu um beijo na mulher e entrou no carro.
- Vou de fusquinha, Zira.
De domingo, sem trânsito, de Itaquera à Cidade Dutra dá pra fazer em 40 minutos - pensou e acelerou.

II
Deu dois toques na buzina em frente ao portão de ferro. um rapaz veio atender, acenou amigavelmente e Roberto guardou o Fusca dentro da oficina. Portão fechado, corrente, cadeado. Quando saiu do carro, Carlos, o rapaz, o agarrou por trás e beijou-lhe na boca com fúria. Fizeram amor ali no capô do Fusca. Depois fizeram no sofá e depois na cama.
- Beto, traz uma água pro teu Cacá, traz?
Nem respondeu, saiu da cama nu e foi para a cozinha. Aproveitou, deu uma passada na geladeira e pegou uma lata de cerveja.
- O senhor foi descalço pra cozinha e vai subir na cama de pé sujo?
Nesse momento, Roberto percebeu que realmente estava de volta.

Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em:
TODO IMIGRANTE É A PULGA ATRÁS DA ORELHA
FUNICULI FUNICULÁ NA VIRADA CULTURAL
DEMAGOGIA FRANCA
QUEM TE VIU, QUE TE VÊ
A GALÁXIA DOS AFÔNICOS
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LA MISTICA, CAPISCI?
ESPERANDO ROSA
ANHANGABAÚ
FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA TERRA

14 de mai. de 2009

17 DE MAIO TEM 22ª FEIRA DE ARTES DA VILA POMPÉIA

Povos de São Paulo, tribos do mundo

 

A tradicional Feira de Artes da Vila Pompéia acontece neste domingo (17.05), das 09h00 às 19h00, e antecipa as comemorações do centenário de fundação do bairro, nascido em 1920 pelas mãos de Rodolpho Miranda, da Comimagepanhia Urbana Predial, a Suissa Paulista na época.

Artistas, artesã os, atores, músicos, esculturores, comerciantes, representantes de organizações não governamentais e outros participam desta 22ª edição do evento. A entrada é gratuita e a expectativa é que 100 mil pessoas visitem a feira.

A Feira de Artes da Vila Pompéia acontece no quadrilátero formado pelas ruas Min. Ferreira Alves, Tucuna, Padre Chico e Xerentes (veja o mapa). Vale a pena visitar. Quem gosta de artesanato e pretende fazer umas comprinhas, tem que ir pronto para pechinchar ou de bolsos cheios porque os preços costumam ser um pouco “salgados”, sabe… Mas vale a pena visitar.

Sempre há bons shows com música, performances, dança, capoeira, poetas de plantão e bom artesanato, além das comidinhas de rua paulistanas – de yakissoba ao típico pastel de feira.

Conheça toda a programação cultural da 22ª Feira de Artes da Vila Pompéia. São sete palcos com cerca de 70 atrações. Clique aqui e confira.

Mais informações no blog do Centro Cultural Pompéia

Clique no mapa para ampliar.

Clique para ampliar

Fotos: blog do do Centro Cultural Pompéia

ACONTECE EM SP

Notícias da Prefeitura

Jogos da Cidade 2009 começam no sábado
Começa no sábado (16) a maior competição esportiva amadora do país, os Jogos da Cidade de São Paulo. A abertura desta sétima edição será realizada com os primeiros jogos entre as equipes de futebol de campo e futebol de salão em diversas regiões da capital. As demais modalidades começarão no final de semana seguinte.

Para conferir os locais e horários dos jogos acesse www.jogosdacidade.prefeitura.sp.gov.br. A disputa acontecerá nas seguintes modalidades: futebol de campo masculino, basquete masculino e feminino, futebol de salão masculino e feminino, handball masculino e feminino e vôlei masculino e feminino.

Domingo tem prova Super 40K de Revezamento
No domingo (17), acontece a prova pedestre Super 40k de Revezamento - Etapa São Paulo, organizada pela Yescom, com apoio da Secretaria de Esportes da Cidade de São Paulo. Com largada às 8h, na Cidade Universitária-USP, são aguardadas 600 equipes que disputarão a prova por revezamento. Cada grupo, formado por até dez atletas, deve completar dez voltas pelo circuito, de modo que cada membro percorra individualmente quatro quilômetros.

Passagem Literária recebe instações de arte contemporânea
A Passagem Literária da Consolação (R. da Consolação, esquina com a avenida Paulista) apresenta até 30 de maio a visão de dois estilos artísticos distintos. Está em exibição na vitrine o trabalho do artista Adeladio Leite, Dos trilhos ao Centro, que busca despertar uma reflexão política e social a partir de diversos materiais, como madeira, máquina de escrever e pintura em roupas.

No restante do espaço, com Olympia está nua, as designers Martha Simões e Betti Simão, que formam a dupla asRetinas, realizam a releitura da tela Olympia, de Edouard Manet, sob a técnica de assemblagem e aplicações acrílicas na parede para representar o desejo feminino pelo consumo exagerado.

Parque do Ibirapuera recebe Feira de Troca de Livros e Gibis
No domingo (17), o Parque do Ibirapuera recebe a Feira de Troca de Livros e Gibis, das 10h e 15h. As feiras de trocas de livros e gibis promovem permutas diretamente entre os freqüentadores, que terão à sua disposição mesas separadas por assuntos: literatura geral, literatura infanto-juvenil, gibis e troca com a mesa. Nessa última, o leitor poderá depositar um título e pegar outro que tenha sido deixado.

O intuito é que as mesas funcionem como pontos de encontro para os leitores de determinado gênero. Para participar, a única recomendação é que os livros não sejam didáticos e que estejam em bom estado. Para os gibis não há restrição, serão bem-vindos exemplares de qualquer época.

Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo

13 de mai. de 2009

ESQUINA PAULISTANA

São Paulo em detalhes

Alguns podem achar batida essa história da esquina da avenida Ipiranga com avenida São João, no centrão paulistano. Porém, muita gente que vive em São Paulo só ouviu falar, mas nunca esteve nesse lugar.

Turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo que visitam a região central – e também o famoso Bar Brahma – retratam a mesmíssima placa. E em todas as comemorações do aniversário de São Paulo, é certo que algum artista cantará “Sampa”. O próprio Caetano Veloso já fez show na esquina da Ipiranga com a São João. Então…

…mesmo sendo “batido”, registramos os quatro cantos desse cruzamento e postamos “Sampa” para você ouvir também.

Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar

Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar Foto: Gladstone Barreto. Clique para ampliar

Texto/fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto

11 de mai. de 2009

TODO IMIGRANTE É A PULGA ATRÁS DA ORELHA

Povos de São Paulo, tribos do mundo

Por Nei Schimada*

Tinha marcado um churrasco para o domingo. Já tinha dado uma olhada no noticiário do tempo e estava  escrito "sol com nuvens esparsas", bom sinal. Os satélites e barômetros japoneses nunca falham. Entre quem compra isso, quem compra aquilo, o importante era resolver o local da carnificina. O melhor lugar, primavera ou verão, é às margens do Rio Tenryu. Escolhemos ali no bulevar perto da ponte azul, local muito disputado porque é arborizado, tem convenience store por perto e sanitários limpos. Ou quase.

São várias  árvores de estatura média com copas grandes e redondas, excelentes sombras. Mas apenas quatro delas têm um banco circular ao redor do tronco, perfeito para abrigar as traquitanas de uma churrascada. Além de servir para sentar, claro. E como todo mundo quer assar uma carne no domingo exatamente em uma das quatro árvores, resolvi marcar o território com uma lona, um dia antes, no sábado à noite.

Com o céu quase lilás do fim de tarde primaveril, fui lá com uma lona azul - uma das traquitanas que tenho para camping, piqueniques e churras - e escolhi a melhor árvore, a mais copuda, com um gramado ao redor, nem muito longe, nem muito perto do estacionamento. Havia algumas pessoas passeando com seus cães, outras faziam suas corridinhas e alguns casais de namorados. Estendi a lona, amarrei, coloquei pedras espalhadas por cima e vi que o vento não carregaria. Ancorei meu marco territorial e, feito um Colombo, tomei posse da minha pequena América.

Diferente do que possam imaginar, aqui ninguém lhe toma a lona e é muito comum reservar um lugar para piquenique dessa forma, principalmente nos festivais de flores e matsuris (festivais de rua).

Marcamos para as dez e meia da manhã do domingo. Como moro perto, cheguei às dez para descarregar algumas coisas. Havia um grupo de brasileiros estabelecidos bem próximos à minha lona, uns 20 metros.Todos me seguiram com os olhos, olharam feio para mim. Quando passei com algumas cadeiras de armar, ouvi:
- Olha aí o japonês da lona.

Voltei para o carro em silêncio para buscar outras coisas e escutei:
- Só porque está no país dele, acha que pode ser folgado.

Tirei mais algumas coisas do carro e passei bem perto do pessoal e disse:
- Bom dia!

Ficaram com cara de tacho. Nunca vi um tacho facial, mas aquela era, sem dúvida, uma cara de tacho. “Olé!” - pensei comigo.

Não que me preocupe, é da minha natureza sê-lo, mas estou com cara de japonês. Não é a primeira vez que acham que sou japonês. Muitos japoneses acham que eu sou japonês e vem falar no japonês arisco e rápido de quem é nativo. Explico que sou brasileiro e ficam surpresos. Eu mesmo já fiz confusão com outros brasileiros, mas nunca de forma vexatória.

Depois de tantos anos aqui no Japão, descobri que estou com o gestual local. Uma das diferenças básicas entre uns e outros, brasileiros e japoneses, é o gestual espalhafatoso dos trópicos e o tímido e comedido do japonês. Assim como dizem que as palavras escandinavas e germânicas têm poucas vogais por causa de seus longos invernos e os latinos são sôfregos em vogais e sons abertos por sua origem calorenta e mediterrânea, acredito que a nossa quase franca parvoice seja por causa do calorão.

Mas cá estou me enviesando por outra cultura, na verdade um grande silêncio adormecido oculto, originário dos meus avós, talvez do pequeno gesto de pegar um norizushi com o hashi sem desmantelá-lo.

Por essas e outras é que acredito que o homem não é a sua cor da pele, dos olhos, cabelos. O que faz o indivíduo é a geografia ao redor. O que faz o ser social é a sociedade, a família, os grupos. Mas o indivíduo, aquilo que cultivamos tão intimamente que nem mesmo nós sabemos o que vem a ser, este - dito alma ou caráter - é feito por tudo isso ao redor. E são os cinco sentidos que nos ligam ao todo. Educá-los é mais que uma necessidade, é uma obrigação.

Nem uns, nem outros, os histriônicos ou os tímidos, estão certos ou errados. Ambos são o que são. O que acredito que possa acontecer é que ao voltar para o Brasil, eu deixe de ser o brasileiro que virou japonês para ser o japonês que é japonês. Porque se eu era japonês, coreano ou chinês no Brasil, já fui brasileiro no Japão, deixei de sê-lo para cair no limbo das nacionalidades.

No fundo, o que me resta de fato são dois idiomas e várias histórias.

Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em: 
FUNICULI FUNICULÁ NA VIRADA CULTURAL
DEMAGOGIA FRANCA
QUEM TE VIU, QUE TE VÊ
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NATSUKASHI
SILÊNCIOS
O PATO
JANELA DE COZINHA
LA MISTICA, CAPISCI?
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ANHANGABAÚ
FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA TERRA

10 de mai. de 2009

NO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA, SEMINÁRIO DISCUTE 30 ANOS DE LUTA PELA ANISTIA

São Paulo lado A,B,C,D…

Cartaz do movimento pela anistia. Clique para ampliarA abertura dos arquivos da ditadura, a reparação aos ex-presos políticos e a (ausência de) punição aos torturadores que agiram durantes os 21 anos de repressão no Brasil: estes são alguns dos temas que serão discutidos no seminário internacional “A luta pela anistia: 30 anos”, que acontece entre os dias 11 e 15 de maio (2ª a 6ª feira) no Memorial da Resistência (Largo General Osório, 66 – Luz – São Paulo – SP).

Organizado pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, em parceria com diversas entidades de defesa dos direitos humanos, o evento começa às 09h30 da segunda-feira, com a presença do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi.

A partir das 11h00, começa a conferência de abertura com Pedro Nikken, ex-Presidente da Corte Interamericana de Direito Humanos, que falará sobre “A Convenção  Americana sobre Direitos HumanosCartaz do movimento pela anistia. Clique para ampliar frente a impunidade dos regimes ditatoriais".

O processo da anistia e a participação das mulheres nesse momento histórico também serão debatidos, além repressão articulada na América Latina e o acesso aos documentos da ditadura brasileira.

Ao todo, serão nove mesas de debate com a participação, entre outros, de Flávio Tavares (um dos 15 presos trocados durante o sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick); Ivan Seixas (diretor do Fórum de Ex-Presos Políticos do Estado de São Paulo); Rose Nogueira (ex-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais); Yasmin Sooka (ex-membro da Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul) e Jaime Antunes (diretor do Arquivo Nacional).

Seminário internacional "A luta pela anistia: 30 anos"
De 11 a 15 de maio, no auditório do Memorial da Resistência
Largo General Osório, 66 – Luz – São Paulo – SP
Entrada franca - Informações: 2221-4785 ramal 202
E-mail:
educativa@arquivoestado.sp.gov.br 
Site do Arquivo Público do Estado de São Paulo -
http://www.arquivoestado.sp.gov.br 

Conheça Inscrição na cela restaurada do antigo DOPS, hoje Memorial da Resistênciaa programação:
Segunda-feira (11/05)
9h30 - Abertura
11h - Conferência - "A Convenção Americana sobre Direitos Humanos frente a impunidade dos regimes ditatoriais"
- Pedro Nikken (ex-Presidente da Corte Interamericana de Direito Humanos)
13h - Lançamento da revista Cadernos AEL, v. 13, n. 24/25 - Anistia e Direitos Humanos. O periódico é organizado pelos professores Sérgio Silva e Maria Lygia Quartim de Moraes, publicado pelo Arquivo Edgard Leuenroth/UNICAMP.
Presença do Dr. Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia e outras autoridades.
14h00 - Mesa 1 - Anistia e direito à verdade (coord. Eugênio Aragão - Subprocurador-geral da República)
- Viviana Krsticevic (Diretora Executiva do CEJIL - Centro pela Justiça e o Direito Internacional)
- Paulo de Tarso Vannuchi (Secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República)
- Marlon Alberto Weichert (Procurador Regional da República)

Terça-feira (12/5)

10h - Mesa 2 - Comissões de verdade e processos de reconciliação (coord. Ivan Cláudio Marx - Procurador da República em Uruguaiana-RS)
- Javier Ciurlizza (ex-Secretário Executivo da Comissão de Verdade e Reconciliação do Peru, Diretor em Bogotá do ICTJ - International Center for Transicional Justice e Consultor da chancelaria peruana para o processo de extradição do ex-Presidente Alberto Fujimori)
- Yasmin Sooka (ex-membro da Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul, Diretora da Fundação pelos Direitos Humanos, indicada pela ONU para integrar a Comissão de Verdade e Reconciliação de Serra Leoa)
- Paulo Abrão (Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça)
14h - Mesa 3 - A resistência armada nos tempos de repressão (coord. Maurice Politi - ex preso político, militante da ALN, administrador de empresas)
- Alípio Freire (jornalista e escritor, militante da Ala Vermelha)
- Ivan Seixas (militante do MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes -, ex-preso político, jornalista)
- Manoel Cyrillo de  Oliveira  Netto ( publicitário ; Comunicação Institucional da Petrobras)
- André de Carvalho Ramos (Professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP e Procurador Regional da República)

Quarta-feira (13/5)

10h - Mesa 4 - As mulheres na luta pela Anistia (coord. Rose Nogueira - jornalista, ex-Presidente do Condepe e do Grupo Tortura Nunca Mais)
- Rosalina Santa Cruz (assistente social, ex-presa política, familiar de desaparecido)
- Maria Auxiliadora Cunha Arantes (co-fundadora e dirigente do Comitê pela Anistia de São Paulo - CBA/SP - e do Movimento Nacional pela Anistia)
- Vânya Santana (co-fundadora e dirigente do Comitê pela Anistia de São Paulo - CBA/SP)
- Zilah Abramo (socióloga, Presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo)
14h - Mesa 5 - Anistia: memória e história (coord. Raphael Martinelli - ex-preso político, militante da ALN, líder sindical, ex-dirigente da Federação Nacional dos Ferroviários/SP)
- Waldemar Rossi (militante da Pastoral Operária e ex-membro da Comissão de Justiça e Paz)
- Flávio Tavares (jornalista e escritor, Professor da Universidade de Brasília e ex-preso político)
- Airton Soares (ex-advogado de preso político e Deputado Federal)

Quinta-feira (14/5
)
10h - Mesa 6 - A campanha pela Anistia: o processo (coord. Fernando Teixeira - Professor do Depto. de História da Unicamp e Diretor do Arquivo Edgard Leuenroth/Unicamp)
- Heloísa Amélia Greco (Coordenadora do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania/ Belo Horizonte-MG)
- James Green (Professor da Brown University/EUA)
- Jean Rodrigues Sales (Professor Adjunto da Unicentro)
14h - Mesa 7 - A repressão articulada no Conesul: resistência e memória (coord. - Yara Aun Khoury - Professora da PUC-SP; coordenadora do CEDIC)
- Jair Krischker (ativista dos Direitos Humanos)
- Martin Almada (advogado, doutor em Ciências da Educação, vítima da Operação Condor, Prêmio Nobel Alternativo da Paz /2002)
- Patricia Valdez (Diretora do grupo Memoria Abierta/Argentina)

Sexta-feira (15/5)

10h - Mesa 8 - A campanha pela Anistia: a luta pela reparação (coord. Célia Reis Camargo - Professora da UNESP; coordenadora do CEDEM)
- Glenda Mezarobba (cientista política e pesquisadora do IFCH - Unicamp)
- Larissa Brisola Brito Prado (advogada e mestre em Ciência Política pela Unicamp)
- Fabíola Brigante del Porto (doutoranda do Programa de Ciência Política da Unicamp e Editora Assistente da Revista Opinião Pública - CESOP/Unicamp)
14h - Mesa 9 - A liberdade de informação: o acesso aos documentos dos órgãos de repressão (coord. Maria Luiza Tucci Carneiro - Coordenadora do PROIN - Laboratório de Estudos da Memória Política Brasileira, historiadora da USP)
- Jaime Antunes (Diretor do Arquivo Nacional)
- Idibal Piveta (advogado de presos políticos; "César Vieira" [pseudônimo])
- Larissa Rosa Corrêa (Coordenadora do Projeto Memórias Reveladas no Arquivo Público do Estado de SP e doutoranda em História Social/Unicamp)
- Eugênia Augusta Gonzaga Fávero (Procuradora da República)

Leia também:
MEMÓRIAS DA DITADURA, HISTÓRIAS DO BRASIL
O QUE CONFERIR NO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA

Texto/foto do Memorial da Resitência: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto

8 de mai. de 2009

104 ANOS DEPOIS…

São Paulo lado A,B,C,D…

Imóvel na rua Asdrúbal do Nascimento, centro paulistano
Imóvel construído em 1905, abandonado na rua Asdrúbal do NascimentoImóvel construído em 1905, abandonado na rua Asdrúbal do NascimentoImóvel construído em 1905, abandonado na rua Asdrúbal do Nascimento
Veja também:
“ESQUELETÃO”


Fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto

7 de mai. de 2009

ACONTECE EM SP

Notícias da Prefeitura

Curso de operador de telemarketing tem inscrições abertas
Secretaria Municipal do Trabalho abriu inscrição para preenchimento de 2.794 vagas para curso gratuito de operador de telemarketing.

De acordo com a prefeitura, “os candidatos ao curso deverão atender aos seguintes requisitos: estar desempregado ou ser beneficiário do seguro-desemprego, ter idade igual ou superior a 16 anos, estar cursando ou ter concluído o ensino médio e residir no município de São Paulo”.

O curso tem um total de 200 horas, com aulas de 2ª a 6ª feira, e três horários disponíveis – manhã ((7h às 11h45), tarde (12h45 às 17h30) e noite (17h45 às 22h30). Os participantes recebem lanche e vale-transporte.

Inscrições até 6ª feira (08.05), das 08h00 às 17h00. É preciso levar RG, carteira profissional e comprovante de residência
Local: Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT Luz)
avenida Prestes Maia, 913 (próximo da estação Luz do Metrô)

Biblioteca Alceu Amoroso Lima promove encontro entre música e poesia
A Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima (R. Henrique Schaumann, 777 - Pinheiros) promove a partir de sábado (9) o projeto "Parcerias: A Voz da Poesia", que reúne poetas e compositores para tratar do diálogo entre música e poesia, seguido de show.

Os convidados do dia são Zeca Baleiro e o poeta Celso Borges, que falam a partir das 18h30. No dia 23 de maio, também às 18h30, é a vez de Evaldo Santana, cantor e compositor dos CDs Lobo solitário e Tá assustado?, e do poeta Ademir Assunção, autor de livros como Adorável criatura Frankenstein e Zona branca, participarem do projeto. A participação é gratuita. Os interessados devem retirar os ingressos com meia hora de antecedência.

Mutirão de Cidadania na Subprefeitura Vila Prudente/Sapopemba Subprefeitura de Vila Prudente/Sapopemba, em parceria com a Caixa Econômica Federal, promove no dia 9 de maio um mutirão de cidadania com os seguintes serviços: emissão de CPF, abertura de conta corrente ou poupança, emissão do cartão cidadão, entrega de extratos e saldos, e emissão de Carteira de Trabalho.

Também será possível obter informações sobre o FGTS, PIS, programas sociais do Governo Federal, financiamento habitacional, e programa "Minha Casa, Minha Vida". O mutirão será realizado na Subprefeitura (Av. do Oratório, 172 - Jardim Independência), das 9h às 17h. Informações: 3397-0800

Fonte: portal da Prefeitura Municipal de São Paulo

6 de mai. de 2009

MARQUÊS DE ITU COM REGO FREITAS: RECADO DE UM INTERNAUTA

Na postagem com foto da esquina das ruas MARQUÊS DE ITU COM REGO FREITAS, o internauta Francisco deixou o seguinte comentário (na verdade, um alerta aos desavisados que passam no local durante o período noturno): 

Bela foto, lindoEsquina das ruas Marquês de Itu com Rego Freitas prédio, lembra até a bandeira do Brasil, isso é São Paulo. Quem vê por fora não imagina que por trás dessa bela apresentação existe algo de meter medo. Em cima da padaria tem um hotel de 5ª, onde tem de tudo. Fui expositor da Feira de Arte e Artesanato que tinha na rua há dois anos atráz.

Por seis anos, presenciei com os próprios olhos mais de 7 assaltos violentos de grupos de seis a sete jovens de programas, todos com corpinho de Alexandre Frota, que saíam do hotel às 5:30 todos os domingos, e ficavam na esquina a espera das presas.

Pegavam o primeiro no farol, na calçada e espancavam, roubavam o que tinha, e levavam o carro. Acontecia e acontece todos os dias. Ninguém denuncia por medo. Conversei com (pessoas) da farmácia, com a quitanda, com os estacionamentos, ninguém quer saber de trabalho ou problema. Então combinado, se tiver que passar por esse belo cartão postal, que seja durante o dia.

Francisco

Foto: Gladstone Barreto

5 de mai. de 2009

A ARTE VISTA POR TODOS OS LADOS

São Paulo lado A,B,C,D…

     


“Deusa da Primavera”, de Victor Brecheret
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo



Mais:
MUSA IMPASSÍVEL NA PINACOTECA
VISITE A PINACOTECA, MAS DISPENSE O CAFEZINHO
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HISTÓRIA DE SÃO PAULO CONTADA POR SEUS   MORTOS
SITE OFICIAL DO INSTITUTO VICTOR BRECHERET


Fotos: Gladstone Barreto

4 de mai. de 2009

E O LIXO DA VIRADA CULTURAL? CADÊ A COLETA SELETIVA?

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Lixo acumulado quase roubou a cena da 5ª Virada Cultural

Praça da RepúblicaPraça da República

Praça da RepúblicaPraça da República

A 5ª Virada Cultural foi fantástica, maravilhosa, aparentemente tranquila, sem grandes tumultos e na paz – alguns bêbados aqui, outros ali, mas nada anormal ou grave aconteceu entre as pessoas.

Só um “detalhe” foi ignorado diante da multidão de 4 milhões de pessoas que vieram para o centro paulistano: e as latas de lixo? A prefeitura esqueceu que elas seriam insuficientes para um público tão grande?

É claro que não dá para perdoar quem joga lixo no chão – e quanta gente fez isso! – mas que não havia cestos suficientes, não havia. Eram só os cestos comuns, do cotidiano paulistano, que estavam disponíveis. E aí…dá-lhe sujeira!!! Vejam algumas fotos enviadas pela internauta Neide Vieira.

"Por que será que, além de colocar mais cestos, a prefeitura também não apostou na coleta seletiva de lixo? O mar de entulho que ficou pela cidade era basicamente composto de papel, garrafas PET e de vidro, além de latas de alumínio – ou seja, tudo absolutamente reciclável.

Pior é que a prefeitura perdeu a oportunidade de fazer um evento ecologicame nte correto, de fazer campanha de conscientização e ainda ganhar ponto com os munícipes, deixando tudo bem mais limpo. Também seria interessante ter varredores de rua trabalhando durante o evento, fazendo limpeza das vias nos intervalos entre as apresentações, por exemplo, e não só no final de tudo.

Quem participou da festa, também perdeu a oportunidade de mostrar que é cidadão bem educado, que respeita a cidade, os outros e a si mesmo. Hoje, toda mídia divulgou a Virada Cultural, mas o lixo acumulado quase roubou a cena numa festa tão bacana. Uma pena…

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FUNICULI FUNICULÁ E A VIRADA CULTURAL

Povos de São Paulo, tribos do mundo

Por Nei Schimada*

Sou um excelente assoviador. Assobiador também. Afinadinho. No Brasil todo mundo assovia tudo, até rebolado de mulher, o que pode ser uma grosseria. Mas acredito que apenas pensar um assovio a uma mulher não a agride. Apesar de que no fantástico filme "A Noite de Cabíria" de Fellini, tem uma cena de um ragazzo assoviando para uma donna o que não nos dá a primazia mundial sobre a música labial.
Ou será "Oito e Meio"? Não importa, é Federico Fellini, então é maravilhosamente estupendo.

O formato melódico do cancioneiro brasileiro é propício ao assovio. Acho que é por causa da flauta tocada nas polcas e chorinhos do começo do século vinte. Tom Jobim e Chico Buarque também tem várias músicas com flautas, o que leva o assovio à bossa nova e ao samba canção. Mas não é só a flauta que faz a composição ser assoviada.

Algumas músicas são obviamente maravilhosas ao ouvirmos, e outras, tão maravilhosas quanto, só conseguimos compreendê-la assoviando. Ainda falando em Jobim, quando ouvimos "Águas de Março", fica clara a riqueza da mescla harmônico-melódica. Mas em "Chuva na Roseira", compreende-se totalmente sua mágica melodia na ponta do beiço. Cada sustenido existe para desdobrá-la em sensações extrasonoras, muito além da música, muito além da racionalidade.

Dei uma olhada na lista mastodônica de atrações da Virada Cultural. É música boa pra todo lado, democracia cultural ao preço de uma caminhada pelos caminhos tonitruantes do centro velho da capital. De Jon Lord a Wanderley Cardoso, de Arrigo Barnabé a Zé do Caixão. Diversidade absoluta distribuída em pontos estratégicos para todos os gostos.

Mas não tem nenhum assoviador no palco. Na verdade, não existem assoviadores profissionais. Todos assoviadores são tratados como atrações simples de shows de calouros em programas de auditório.
Há muitos anos peguei um táxi - isso sempre me soa estranho porque é evidente que são os carros que nos pegam - ali em Pinheiros, uma corrida curta. O motorista não era do tipo conversador, mas assoviava muito e de uma forma diferente. Ele fazia as duas vozes num sopro só. Fica difícil explicar, mas era como se ele assoviasse em estéreo, com a boca aberta não no meio, mas nas extremidades e em cada uma um tom diferente, a tônica de um lado e a terça do outro. Um naipe de metais numa boca só.

Eu perguntei como ele fazia aquilo. Não sabia, era coisa de menino. Mas eu percebi que ele não tinha os caninos o que poderia ser um adendo à sua técnica. O homem tocou Roberto Carlos, Pixinguinha, Luiz Gonzaga e improvisou umas fugas bachianas absurdamente psicodélicas. Mas na hora que ele começou a assoviar Funiculi Funicula, deu vontade de dançar dentro do Golzinho, sair pulando, sair correndo pela rua como se estivesse numa propaganda da Volkswagen. Doideira.

Funiculi Funicula
era a canção favorita dele para assoviar porque ele a tinha ouvido pela primeira vez na quermesse de São Vito, Mártir, ali no bairro do Brás e disse, "forrado de breja até os tubos, entrei na roda com aquela italianada e dancei até me esbaldar. Essa música é uma alegria só, menino".

Imagino um coral de mil vozes num imenso palco no Sambódromo do Anhembi. O maestro surge pela entrada do palco e é aplaudidíssimo. Silêncio total, respirações em suspenso. Uma soprano começa a cantar Aissera, Nanninè, me ne sagliette, tu saje addo'? E o coral responde (Tu saje addo'?)

Na hora do refrão 'Ncoppa jammo ja', funiculí, funiculá, funiculí, funiculá', ncoppa jammo ja', com quinhentas vozes acompanhadas de quinhentos assovios, a platéia vai ao delírio. Diz-se que o samba jamais morrerá - e é verdade - mas o Sambódromo se transformará numa grande cantina italiana a céu aberto.

Para uma cidade tão italiana como São Paulo, nada mais justo, nada mais Fellini, nada mais maravilhosamente estupendo.

Nei Schimada, 43, punk, poeta e dekassegui, escreve de Hamamatsu shi - Japão. É blogueiro da Estrovenga dos Corsários Efêmeros. Leia mais em: 
DEMAGOGIA FRANCA
QUEM TE VIU, QUE TE VÊ
A GALÁXIA DOS AFÔNICOS
NATSUKASHI
SILÊNCIOS
O PATO
JANELA DE COZINHA
LA MISTICA, CAPISCI?
ESPERANDO ROSA
ANHANGABAÚ
FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA TERRA

1 de mai. de 2009

O DIA A DIA DE TRABALHO EM SÃO PAULO

Clique na imagem para ampliar. Mais fotos no Flickr

Sem equipamentos, trabalhador se equilibra no alto de imóvel em demoliçãoSem equipamentos, trabalhador se equilibra no alto de imóvel em demolição

Limpeza do lago do Parque da AclimaçãoLimpeza do lago do Parque da Aclimação

Limpeza da Praça da RepúblicaUnidade da Guarda Civil Metropolitana na Praça da República

Rita de Cássia, administradora do Parque Buenos AiresRita de Cássia, administradora do Parque Buenos Aires

Fotos: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto

VIRADA CULTURAL COMEÇA NESTE SÁBADO. ACESSE A PROGRAMAÇÃO

São Paulo lado A,B,C,D…

Saiba mais:
DIAS 2 E 3 DE MAIO TEM VIRADA CULTURAL
VIRADA CULTURAL TEM PROGRAMAÇÃO PARA TODOS OS PÚBLICOS
ATENÇÃO FÃS DE RAUL SEIXAS: VIRADA TERÁ ESPECIAL “20 ANOS SEM RAUL”
CONTOS COM ZÉ DO CAIXÃO E O “MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA” NO CEMITÉRIO DA VILA NOVA CACHOEIRINHA
TRENS E METRÔS NAS 24 HORAS DA VIRADA CULTURAL

Acesse o site da Virada Cultural

A 5ª Virada Cultural começa amanhã (02.05), às 18h00 e vai até às 18h00 do dia 3, em pleno domingão paulistano. Vale lembrar que quem está na periferia não ficará esquecido, não, porque as unidades do CEUs e também do SESC-SP participam.

São cerca de 800 atrações em diversos pontos da cidade, principalmente na região central, com eventos para todos os públicos e gostos.

Tem música, dança, teatro, performances e, na 5ª edição da Virada Cultural, a novidade é participação é de artistas franceses, já que este é o Ano da França no Brasil.

Um dos destaques é a apresentação da companhia francesa Carabosse que apresentará “Instalação de Fogo” no Parque da Luz antes mesmo do início do evento – na sexta-feira (1º de maio), às 22h00, numa première da Virada Cultura.

Clique aqui e ouça músicas da performance “Les Installations de Fe”, da Cie Carabosse

PROGRAMAÇÃO VASTA E ECLÉTICA PARA TODOS OS PÚBLICOS

De Maria Rita a Wanderley Cardoso, uma das coisas mais interessantes da Virada Cultural é que tem de tudo, pra todo tipo de público.

No palco da Avenida São João, a programação será eclética. Da para conferir o show do lendário tecladista do Deep Purple, John Lord, que apresentará às 18h10 o “Concerto para Grupo e Orquestra”, de 1969, ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal. No mesmo palco cantarão Geraldo Azevedo (02.04, às 21h00), Zeca Baleiro (03.04 ao meio dia) e Novos Baianos (03.04, 15h00), entre outros, fechando com a maravilhosa Maria Rita, às 18h00 do domingo.
Programação na Avenida São João

O palco da Praça da República será dedicado aos fãs de rock, com destaque para Ike Willis, cantor do grupo de Frank Zappa que encerra as apresentações ao lado da Central Scrutinizer Band (03.04, às 17h20). Sábado na praça, tem Tutti-frutti às 19h20 e Joelho de Porco, às 22h40. Às 00h10, a velha Camisa de Vênus sobe ao palco com formação original e Marcelo Nova à frente dos vocais. Quem tiver pavor do rock “naftalina”, pode conferir o som mais “moderninho” do CPM 22 no domingo (10h10) e também Nação Zumbi, ao meio dia.
Programação Praça da República

Os novos talentos da cena musical paulistana estarão no palco do Largo Santa Ifigênia, como Anelis Assumpção, filhota do Itamar Assumpção (02.04, às 18h30), Os Pamonheiros (nunca ouvimos falar, mas eles se apresentam às 07h20 no domingo) e a mulherada maluca do Comadre Fulozinha, às 17h20.
Programação Largo Santa Ifigênia

Quem prefere algo mais tranqüilo, o tradicional Piano na Praça, na praça Dom José Gaspar, com Duo Lumina abrindo o evento às 19h00 do sábado, e Mário Moita no domingo, às 17h00.
Programação Praça Dom José Gaspar

Se você quer ouvir “música romântica”, dance de rostinho colado no Largo do Arouche: Benito di Paula (02.04, às 19h30) e Wando (23h30). No domingo, tem Reginaldo Rossi a uma e meia da manhã e Beto Barbosa às 03h30. Para começar bem o domingão, Jane e Herondy às 09h30; Odair José depois da macarronada, às 13h30, e Wanderley Cardoso, às 15h30.
Programação Largo do Arouche
Confiram a programação completa no site da Virada Cultural

VIRADA CULTURAL “LADO B”

Contos com Zé do Caixão e o “Massacre da serra elétrica” no Cemitério da Vila Cachoeirinha
Olha que doido ouvir contos de terros narrados por Zé do Caixão, meia noite, numa praça em frente ao cemitério da Vila Nova Cachoeirinha! Depois, assistir “O Massacre da Serra Elétrica” e a performance ao vivo com Rogério Skylab.
Tudo isso acontece no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (Av. Deputado Emílio Carlos, 3641).

Virada Cultural Lado B no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso
avenida Deputado Emílio Carlos nº 3641, Vila Nova Cachoeirinha (veja mapa)
Site: http://ccjuve.prefeitura.sp.gov.br

Texto: Flaviana Serafim Foto: Silvye Monier/Cie Carabosse